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“Montanha que não para de crescer”: veja o que fazer com eletrônicos antigos

Se você tem uma ou mais gavetas cheias de aparelhos eletrônicos e cabos antigos, saiba que não está sozinho. Décadas de pressão do setor de tecnologia para “inovar ou morrer” levaram a uma longa lista de produtos domésticos tecnológicos úteis e chamativos, mas muitos desses mesmos dispositivos também precisam ser substituídos quase na mesma velocidade em que as novas tecnologias surgem.

O resultado dessa chamada obsolescência programada, combinada com um número limitado de opções para consertar aparelhos mais antigos ao longo dos anos, é um tsunami de lixo eletrônico, também conhecido como e-lixo. E as consequências disso vão muito além da dor de cabeça de resolver o que fazer com a desordem jogada nas gavetas de sua casa.

“A obsolescência planejada só piora a situação. As pessoas agora esperam comprar um novo computador a cada três ou quatro anos, um novo telefone a cada dois anos”, disse Jim Puckett, diretor executivo da Basel Action Network, um órgão de vigilância de lixo eletrônico com sede em Seattle. “É uma montanha que não para de crescer”.

Os dados mais recentes das Nações Unidas indicam que o mundo gerou impressionantes 53,6 toneladas métricas de lixo eletrônico em 2019, e apenas 17,4% disso foi reciclado. O fardo e os danos do lixo eletrônico geralmente recaem sobre os países em desenvolvimento.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos estima que uma “quantidade indeterminada de eletrônicos usados é enviada dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos para países em desenvolvimento que não têm a capacidade de rejeitar importações ou de manusear esses materiais adequadamente”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou no ano passado que o descarte e o processamento do crescente lixo eletrônico podem causar uma série de “impactos adversos à saúde infantil”, incluindo alterações na função pulmonar, danos ao DNA e aumento do risco de algumas doenças crônicas, como câncer e doenças cardiovasculares, que podem aparecer mais tarde na vida.

Além disso, existem mais de 18 milhões de crianças e adolescentes “ativamente engajados” na indústria informal de processamento de lixo eletrônico, alertou a OMS. Crianças e adolescentes são frequentemente usados para vasculhar montanhas de lixo eletrônico em busca de materiais valiosos como cobre e ouro “porque suas pequenas mãos são mais hábeis do que as dos adultos”, disse a OMS.

A questão do lixo eletrônico é “tudo sobre justiça ambiental em nível global”, disse Puckett. “Trata-se de impedir que os países ricos despejem seus resíduos e tecnologias sujas nos países em desenvolvimento”.

A crescente crise ambiental está agora chamando a atenção de legisladores da Europa aos Estados Unidos, bem como de comunidades nos países em desenvolvimento, para onde o lixo eletrônico historicamente tem sido despachado.


Autoridades da União Europeia aprovaram no mês passado uma nova lei exigindo que todos os celulares e eletrônicos usem um carregador padrão independente de marca, com o potencial de limitar quantos cabos diferentes o consumidor precisa possuir. Três legisladores americanos progressistas pediram em uma carta que os EUA seguissem o exemplo.

Os senadores Ed Markey, Elizabeth Warren e Bernie Sanders disseram que a nova política da União Europeia “tem o potencial de reduzir significativamente o lixo eletrônico e ajudar os consumidores que estão cansados de vasculhar gavetas cheias de carregadores emaranhados para encontrar um compatível, ou comprar um novo”, em carta endereçada ao secretário de Comércio dos Estados Unidos.

Os senadores fizeram alusão ao tema bipartidário de “enfrentar poderosas empresas de tecnologia” pelo interesse dos consumidores e do meio ambiente.

Por enquanto, porém, a regulamentação em torno do lixo eletrônico existe principalmente em nível estadual e há poucos sinais de que a política federal avance no futuro próximo. Na sua ausência, o ônus continua sendo dos consumidores e das empresas para tomar a iniciativa e encontrar melhores maneiras de lidar com os eletrônicos antigos.

O que os consumidores e empresas podem fazer a respeito

Quando Corey Dehmey trabalhava em departamentos de tecnologia da informação (TI) corporativos, ele precisava tentar resolver o que fazer com centenas de computadores antigos das empresas. Agora, como diretor executivo da organização sem fins lucrativos Sustainable Electronics Recycling International (Seri), ele faz parte de um grupo que tenta enfrentar a crise do lixo eletrônico, reforçando a cooperação entre o governo, o setor privado e os consumidores.

“O lixo eletrônico é o resultado do não planejamento do produto ao longo de seu ciclo de vida”, disse Dehmey. “Estamos apenas reagindo a um problema que criamos anos atrás. Então, se queremos chegar à frente, temos que pensar sobre essas coisas no front-end –o que estamos projetando, bem como o que nós, enquanto consumidores, estamos comprando”.

Para fazer isso, a Seri introduziu e supervisiona seus próprios padrões de certificação para reciclagem de lixo eletrônico que garante que as instalações estejam descartando adequadamente o lixo eletrônico.

O grupo também organiza eventos para empresas e outras partes interessadas e se envolve em trabalhos de advocacia para pressionar empresas e governos a adotar abordagens mais sustentáveis para o desenvolvimento de eletrônicos.

“Temos que descobrir maneiras de usar [um dispositivo eletrônico] por mais tempo, consertá-lo, reutilizá-lo”, disse Dehmey, observando que isso exigirá mudanças de mentalidade de consumidores e empresas.

Nos últimos meses, houve alguns motivos para otimismo nessa frente. O aumento do lixo eletrônico levou a um aumento da pressão sobre os fabricantes para aliviar as restrições ao conserto de dispositivos por indivíduos e lojas independentes em um movimento conhecido como “direito ao reparo”.

O presidente Joe Biden aprovou no ano passado uma ordem executiva que instruiu a Comissão Federal de Comércio a emitir regras exigindo que as empresas permitissem pequenas lojas de reparos e a comissão do comércio prometeu “eliminar” as restrições ilegais para o conserto.

Agora, um punhado de empresas de tecnologia lançou iniciativas para ajudar a consertar aparelhos antigos. No início deste ano, a Apple e a Samsung lançaram suas lojas de reparo de autoatendimento, oferecendo peças para usuários que buscam consertos do tipo “faça você mesmo” para seus smartphones. O Google também prometeu que peças para reparar telefones Pixel estarão disponíveis ao público ainda este ano.

Várias associações também surgiram nos últimos anos para dar aos consumidores a opção de descartar seus dispositivos com responsabilidade. Puckett ajudou a lançar a iniciativa de reciclagem de lixo eletrônico e-Stewards, por exemplo, que certifica e audita recicladores de eletrônicos para garantir que eles estejam descartando adequadamente o e-lixo usando “padrões muito rigorosos”.

Com esta ferramenta, os consumidores podem procurar centros de reciclagem próximos. A Seri também oferece uma ferramenta online com centros de reciclagem certificados.

Jeff Seibert, o principal provocador (sim, esse é o seu verdadeiro título) da Seri, também recomenda que os consumidores verifiquem com o município se eles têm um plano designado para a reciclagem de lixo eletrônico.

Um punhado de varejistas dos EUA, incluindo Staples e Best Buy, também têm programas que permitem que os consumidores tragam lixo eletrônico para reciclagem, na ausência de infraestrutura mais ampla. Outras empresas, incluindo a Apple, têm programas para oferecer créditos ou reciclagem gratuita em troca de dispositivos usados.

Antes de optar por doar ou reciclar eletrônicos usados, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA recomenda considerar atualizar o hardware ou software de um computador em vez de comprar um produto novo. Se você decidir reciclar, a agência pede aos consumidores que removam quaisquer baterias que possam precisar ser recicladas separadamente.

A agência diz que a reciclagem de 1 milhão de laptops economiza energia equivalente à eletricidade usada por mais de 3.500 lares americanos em um ano. Para cada um milhão de telefones celulares reciclados, a agência diz que cerca de 16 mil quilos de cobre, 350 quilos de prata, 34 quilos de ouro e 15 quilos de paládio podem ser recuperados.

Além dessas opções, Seibert simplesmente pede que os consumidores comecem a pensar em eletrônicos como pensamos em carros: não destruímos nossos veículos quando precisamos de pneus novos ou se o para-brisa rachar.

“Todo mundo quer fazer a coisa certa”, disse Seibert. “Então, temos que dar a eles os recursos para poder fazer isso, e isso ainda é um trabalho em andamento”.

Fonte: CNN Brasil

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