Especialista da Nasa alerta para os tradicionais efeitos da fumaça: má qualidade do ar, riscos à saúde de idosos e crianças e pessoas com doenças respiratórias, e baixa qualidade de vida.
Um corredor de fumaça proveniente das queimadas na Amazônia vem descendo pela América do Sul desde a semana passada, atingindo o Centro Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, e países vizinhos como Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia.
O fenômeno costuma ocorrer entre agosto e setembro, por causa da temporada seca, mas chamou a atenção depois que uma mistura de fumaça com a frente fria que atingiu o estado de São Paulo escureceu a região da capital paulista no meio da tarde de ontem.
No caso de São Paulo, a fumaça provocada pelas grandes queimadas no sul da Bolívia e no Paraguai no fim de semana contribuiu para que o paulistano pudesse achar que anoiteceu mais cedo, por volta das 15h da segunda. A fumaça dos incêndios atravessou o Paraná, Mato Grosso do Sul, atingiu o estado de São Paulo e chegou a alcançar Minas Gerais, somando-se à fumaça provocada pelas queimadas amazônicas e aumentando a intensidade desse “corredor”.
Em entrevista ao UOL por email, o argentino Santiago Gasso, pesquisador da Nasa, a agência espacial norte-americana, conta que o fenômeno do “corredor de fumaça” não ocorreu nos últimos anos e depende de muitos fatores para se formar.
“Incêndios sempre acontecem nesta época do ano. Mas o corredor da fumaça não se forma todos os anos por razões que incluem o número de incêndios e sua intensidade, o tipo de combustível, a umidade no solo e questões meteorológicas”, afirma o especialista.
A empresa de meteorologia MetSul explica que é possível saber que a fumaça que atingiu é proveniente da Bolívia, por onde passa o corredor, e não só da Amazônia, por causa da cor da fumaça vista nos satélites. “A cor da fumaça que vem da região amazônica é esbranquiçada, e a fumaça que veio da Bolívia e do Paraguai é marrom. E o que estava sobre o estado de São Paulo era marrom”, afirma a MetSul.
“Como a fumaça é ‘emparedada’ nos Andes, acaba se concentrando e fica muito espessa, parecendo uma nuvem de cor diferente, meio azulada. Ao se mover para o sul, parece uma longa nuvem contínua de cores diferentes” diz Gasso, explicando que a imagem gerada pelos satélites assemelha-se a um rio. Por onde passa, a poluição causada pela fumaça é responsável por aquele visual do sol avermelhado se pondo no horizonte, como ocorre na capital paulista no inverno.
Segundo a MetSul, os ventos da Amazônia sopram de leste para oeste, entrando no continente pelo Nordeste do Brasil em direção aos Andes, onde encontram uma grande parede de montanhas de até 5.000 metros na cordilheira. A
fumaça, que costuma concentrar-se entre 1.500 e 2.000 metros de altitude, não consegue ultrapassar esta barreira e desce em direção ao sul da América do Sul, passando por Peru, Bolívia, o Centro Oeste do Brasil e o Paraguai, chegando até o sul do Brasil. Com os fortes ventos e as queimadas na Bolívia e no Paraguai, a fumaça acabou atingindo SP e MG.
CLIMA | Fumaça que alcança o Brasil é parte da região amazônica, mas nas últimas 48h também de focos de incêndio de enormes proporções na tríplice fronteira de Brasil, Bolívia e Paraguai. #IncendioPantanal no Alto Paraguai e o de #Roboré na Bolívia. Imagem da @NASA via @SanGasso.
O especialista da Nasa lembra ainda que os efeitos da fumaça os tradicionais: má qualidade do ar, riscos à saúde de idosos e crianças e pessoas com doenças respiratórias, baixa qualidade de vida (você não pode sair e praticar esportes, por exemplo), além dos impactos no clima e no ecossistema. “Existe um componente internacional importante, porque provoca a má qualidade do ar no Paraguai, na Argentina e no Uruguai, países que não são necessariamente os principais produtores de fumaça”, diz o Gasso.
De acordo com o MetSul, o número de queimadas em agosto está acima da média dos últimos anos. O tempo muito seco e o aumento de incêndios ilegais contribuem para o crescimento dos focos de incêndio na região amazônica.
fonte: Uol