“Vivemos ainda um momento de epidemia de dengue. É muito importante para quem está em casa, que faça a limpeza do quintal, desentulhe e desapegue das coisas sem uso. Jamais jogue o lixo em terreno baldio, nos cantos das ruas ou na beira dos rios.”
Durante o período de quarentena imposto por autoridades de saúde globais para controle da pandemia do coronavírus (Covid-19), a população deve reforçar os cuidados com o descarte do lixo.
O isolamento social e a prática do trabalho em casa aumentaram o volume de lixo no Brasil. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que as medidas de distanciamento social geraram no país um aumento de 15% a 25% na quantidade de resíduos residenciais. Já para os hospitalares, o cálculo é de um crescimento de 10 a 20 vezes.
Mesmo com a interrupção dos trabalhos em grande parte dos setores, a coleta de resíduos entrou na lista dos serviços considerados “essenciais” e que, portanto, não podem parar, por vários motivos, mas, principalmente, pela importância em relação à proteção do meio ambiente e da saúde humana, mesmo durante processos epidêmicos.
“Por conta desse caráter de essencialidade, é indispensável assegurar que tais serviços sejam diariamente executados, porque eles contribuem para auxiliar na prevenção da transmissão do coronavírus, bem como de outras doenças e endemias decorrentes de acúmulo e má gestão de resíduos. Se não houver trabalho efetivo nessa área, a imunidade e a saúde das pessoas ficariam comprometidas, o que seria um agravante bem sério diante do quadro atual”, observa Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Abrelpe.
“Vivemos ainda um momento de epidemia de dengue. É muito importante para quem está em casa, até para ocupar o tempo, que faça a limpeza do quintal, desentulhe e desapegue das coisas sem uso. Se for material reciclável, as pessoas podem apresentá-los para a coleta seletiva. Se for orgânico, entregar para o caminhão da coleta. Jamais jogue o lixo em terreno baldio, nos cantos das ruas ou na beira dos rios.”
Oportunidade de negócio no ‘lixo’
Iniciativas privadas também perceberam alteração na geração de lixo doméstico. A startup Composta+ coleta sobras orgânicas em centenas de casas e empresas para fazer compostagem e fabricação de adubo e fertilizantes orgânicos. Em épocas normais, a companhia coletava uma média de 45 toneladas por mês. Após a quarentena iniciar, a quantidade de lixo orgânico gerada nas casas aumentou 26%.
A startup viu neste momento uma oportunidade de negócio e, para as pessoas, uma chance de construir hábitos sustentáveis e saudáveis. A empresa até lançou promoções, com uma isenção no primeiro mês, para conseguir mais clientes dispostos a separar os resíduos para compostagem. O serviço funciona por assinatura. A empresa leva os baldinhos até os locais e passa uma vez por semana recolhendo os orgânicos gerados. O custo mensal inicial para residência é de R$55 por mês.
“Mesmo com esse momento difícil, queremos compostar o máximo que a gente puder, pois essa é a nossa forma de ajudar a sociedade a enfrentar esse desafio. Queremos levar essa experiência para mais pessoas e famílias, para que possamos gerar esse impacto positivo no mundo – junto com a entrega de mudas e adubo, revivendo momentos como o de cultivo de uma mudinha, até para dar uma desestressada”, diz Igor Gonçalves Oliveira, representante da Composta +.
Descarte em larga escala de máscaras contamina oceanos
Em alguns pontos do mundo, a pandemia pela Covid-19 gerou contaminações tão inéditas quanto preocupantes. O alerta é de ambientalistas da ONG OceansAsia, que denunciaram o impacto desse novo tipo de lixo nas Ilhas Soko, na costa sudoeste de Hong Kong.
A equipe da OceansAsia realiza vários projetos de pesquisa sobre poluição plástica e, duas vezes por mês, visita as ilhas para realizar análises de microplásticos e do acúmulo de lixo na praia, procurando pistas da origem dos detritos.
Também em conjunto com a WWF, a pesquisa monitora a superfície do oceano com drones. No início da epidemia, já foram vistas máscaras no ambiente marinho e, com o agravamento do problema, elas foram achadas ao longo da linha da maré alta e do litoral, à deriva nas correntes, chegando até a costa.