Diante da pandemia de coronavírus, das diferentes reações em cada parte do mundo e das dúvidas que o Covid-19 gera, uma recomendação é unanimidade entre especialistas: lavar bem as mãos com água e sabão.
Mas por que o sabão é tão eficaz contra infecções?
O sabão possui uma função emulsificante, que ajuda a unir água e gorduras, e também permite a remoção mecânica tanto da sujeira quanto de micro-organismos. Isso quer dizer que ele é capaz de unir moléculas que normalmente não ficariam unidas, agindo como ponte para que elas sejam carregadas pela água. Em tempos de pandemia, o objetivo é tirar o máximo desses micróbios (vírus, bactérias, fungos e protozoários, por exemplo) de circulação.
“É por isso que essa é uma orientação dada para quem foi ao banheiro, vai preparar uma refeição ou tocar pessoas vulneráveis, independentemente de qualquer pandemia”, ressalta o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
As moléculas de sabão têm duas “pontas”: uma hidrofílica, capaz de se prender às moléculas de água, e outra hidrofóbica, que se une às moléculas de óleos, gorduras e sujeiras. Uma vez que você enxágua a mão e outras partes do corpo, essa combinação age como uma conexão entre as moléculas de água e de restos de vírus e sujeiras, levando elas ralo abaixo.
A função emulsificante faz com que o sabão grude na proteção do coronavírus, rompendo-a. “As bactérias e boa parte dos vírus têm capas de gordura, chamadas de membrana e envelope, respectivamente. A função dessa capa é proteger o micro-organismo do ambiente. O sabão rompe essa proteção, fazendo com que essas bactérias e vírus morram”, explica Laura de Freitas, doutora em Biociências e Biotecnologia na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Lindo, né? Mas, há vírus que não contam com esse envelope de gordura. E aí? “Eles ainda são eliminados pelo sabão, mas por um outro mecanismo, que é a interação com as proteínas que compõem esses micro-organismos”, diz a especialista. A ação do sabão sobre os vírus costuma ser imediata, mas a eficiência também depende da concentração de germes em locais como as mãos. Para garantir a limpeza em toda a área, recomenda-se lavar as mãos de maneira lenta e atenciosa.
O vírus foge do sabão?
É bem provável que você tenha visto algum vídeo que explica essa ação do sabão. Feito para educar crianças a lavarem as mãos, ele costuma mostrar uma pessoas colocando o dedo na água com pimenta moída —a pimenta serve para ilustrar os vírus espalhados. Ao adicionar sabão ou detergente no dedo e colocá-lo de volta na água, as partículas “fogem”. Na verdade, os vírus não fogem. Eles morrem mesmo, como já explicamos acima.
No exemplo, a “sujeira” se afasta do dedo porque o sabão consegue romper a tensão superficial da água que está ao redor do dedo. As moléculas de água mais afastadas não tiveram sua tensão rompida, por isso se contraem na direção oposta ao dedo, levando consigo a “sujeira”.
Sabão, detergente ou sabonete bactericida?
Você pode estar pensando: vale a pena levar para casa um sabonete bactericida? “Esses sabonetes vendem uma ideia que não é real. Eles de fato têm uma concentração maior de substâncias com ação bactericida, mas para efeito prático, os normais já dão conta”, salienta Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Além de não ser indispensável para eliminar micro-organismos, esse tipo de sabonete pode causar problemas se usado de maneira errada. “Nem se recomenda que eles sejam usados com frequência, porque eles podem aumentar o número de bactérias resistentes no ambiente”, complementa Freitas.
E na hora de escolher entre sabonetes líquidos ou em barra? Aqui, o ideal é considerar em qual ambiente ele será usado. No caso de banheiros públicos ou com circulação de várias pessoas —o lavabo da sua casa, por exemplo— a melhor opção é usar sabonetes líquidos.
“Sabonete em barra é para uso pessoal. Em locais de uso coletivo, a tendência é que o suporte do produto acumule água e dejetos, o que não é higiênico”, alerta França. Outro produto que deve ser evitado são os detergentes usados para a limpeza de utensílios de cozinha. Eles compartilham com os sabonetes as propriedades emulsificantes, mas tendem a ser mais agressivos. Ao lavar as mãos com detergente, ele tende a remover as camadas de proteção da pele. Em casos extremos, isso pode deixar a região mais exposta a micro-organismos.
Álcool gel: use com critério
Outra substância bastante usada para a higiene das mãos é o álcool gel. Em contato com a proteína que compõe os vírus, ele provoca a chamada desnaturação proteica.
Esse processo, basicamente, significa expor as proteínas a um meio diferente do qual elas foram geradas, o que gera um efeito parecido com o de uma coagulação.
Mesmo sendo extremamente eficiente para acabar com micro-organismos, o álcool gel não é a substância ideal para ser usada em todas as situações.
“Ao contrário da água e do sabão, o álcool gel não promove a remoção mecânica.
Além disso, ele precisa ser usado com cuidado, já que há risco de acidentes, como quando alguém não espera ele secar e acaba passando a mão nos olhos”, diz Suleiman.
Aqui, valem duas dicas. A primeira é observar a sujeira das suas mãos: se ela é, de alguma forma visível, o ideal é usar água e sabão, não o álcool.
A outra é pensar no álcool gel como um complemento para limpeza, para ser usado após lavar as mãos com água e sabão ou quando não há acesso a uma pia. E nunca como meio de higiene principal.
fonte: UOL